Manoel Bezerra de Araújo
A estrutura formal de Iscola... o Crime revela um contraponto
temporal digno de reflexão. O emprego de elementos visuais considerados em
desuso (possível referência à escola pública de qualidade de outrora) como o
caderno “deitado”, a cor e a textura da capa, a etiqueta, entre outros, contrasta
com a atualidade do conteúdo: a situação caótica nas escolas brasileiras.
O termo “Iscola” evidencia desvio. Não apenas na grafia, mas também indica que a
função precípua tomou outro rumo. A pausa sugerida pelas reticências cria uma
expectativa – logo quebrada. O que se
pode esperar de uma instituição anômala até na escrita? O complemento do título
é a resposta! Como justificativa para essa inferência, a autora,
apropriadamente apresenta as personagens sem portar cadernos, lápis, canetas,
livros (aliás, estes aparecem, mas como artefatos bélicos) e, tampouco trajam
uniforme escolar. O que se observa é o manuseio de bombas, granadas,
revólveres, com destaque para a garrafa quebrada que ilustra a paginação ao
longo do livro. Percebe-se ainda, ameaças verbais, apologia ao crime e a
indefectível tarja negra, símbolo da impunidade.
Além disso, os diálogos das personagens são
um poço de nulidades. Predominam as ideias vazias, os desejos fúteis, as
expressões de duplo sentido que denotam uso recorrente.
Por fim, àqueles que desconhecem o universo
escolar, a autora teve o cuidado de inserir matérias jornalísticas sobre
violência nas escolas demonstrando que sua obra não é ficção ou apenas
verossímil, mas uma radiografia fiel da realidade nas salas de aula do Brasil.
Parabéns,
Rose!
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